segunda-feira, 28 de março de 2016

Erva-mate, o ouro verde da vida - Da cultura, a reorganização e expansão do mercado mundo a fora

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O início de uma tradição
A erva mate é uma planta que floresce de forma natural apenas na região sul-americana, em especial na Mata Atlântica. A planta floresce na região sul do Brasil, o norte da Argentina, o Paraguai e o sul do estado do Mato Grosso do Sul. A erva-mate é uma herança indígena, mas já era conhecido bem antes mesmo dos índios guaranis que apresentaram a infusão feita com a planta aos europeus.

De forma inicial os indígenas a mascavam e logo depois passaram a prepara-la na forma de infusão. A bebida era consumida também pelos índios carijós, xetás, guairás, charruas, caingangues (que chamam o chimarrão de kógwuin) e os incas e aymará pois todos eles mantinham relações comerciais com os guaranis. Na América do Sul o uso da erva-mate já era conhecido no período pré-colombiano. Tanto é que os primeiros achados da erva-mate datam de mil anos antes de Cristo. As folhas fragmentadas junto com outros objetivos foram encontradas com mortos no Peru (SOUZA, 1969).
Por muito tempo, o consumo de Caá-i ou ka'a y foi restrito apenas a membros importantes das tribos como caciques e pajés. Alguns traduzem a palavra indígena Caá-i como sendo “água de erva saborosa” outros dizem que a ka'a y é traduzida do guarani como "água de folha". O termo “mate” tem origem no idioma dos incas, o quíchua, por meio do vocábulo mati, que significa “cuia, recipiente” e para designar a cabaça na qual até hoje se bebe a infusão de erva-mate. O termo “porongo” também vem do quíchua, significando “vaso de barro com o gargalo estreito e comprido.

A erva-mate ganhou os europeus que na América do Sul chegaram a partir dos índios guaranis que habitavam a região das bacias dos rios Paraguai, Uruguai e Paraná. Se deve ao conquistador, explorador e colonizador espanhol Domingo Martínez de Irala (1509 a 1556) o primeiro contato oficial da infusão preparada com a planta. O grupo de militares liderado pelo general teve o primeiro contato com a bebida em 1554 quando iniciaram uma expedição por Guaíra, que na época pertencia ao Paraguai, mas hoje é território brasileiro. Domingo Martínez foi também o segundo governador do Rio da Prata e do Paraguai, enquanto territórios espanhóis.

Os europeus colonizadores foram recebidos por índios que ali habitavam. Segundo descreve o professor e investigador uruguaio Fernando Assuncao, em El Mate, os índios demostravam bom vigor físico e um excelente estado de saúde. O uso da bebida estimulante era extraído pelos índios a partir de matas nativas. Das observações feitas pelos visitantes, a forma de consumi-la chamou a atenção. Eles tomavam a infusão feita a partir de folhas provenientes de uma árvore chamada ka'a em porongos naturais. As folhas eram despedaçadas e para consumir a água eram usados canudo de taquara, caniço ou osso. Na ponta desse canudo ficava um traçado de fibras, imersa no porongo, para impedir a passagem de fragmentos de folhas (DA CROCE e FLOSS, 1999).

Documentos espanhóis também falam a respeito de uma bebida tomada pelos nativos da região de Guaíra, no oeste do atual estado do Paraná. Pelos relatos ela era bastante popular entre os índios Guarani e Kaingang. Alguns citam que era consumida como um verdadeiro “vício”. Como forma de contribuir na colonização da região aportaram no Brasil, em 1549, o primeiro grupo de padres jesuítas. Eles criaram as reduções que foram os aldeamentos indígenas organizados e administrados pelos próprios religiosos, como parte de sua obra de cunho civilizador e evangelizador. Os jesuítas chegaram, em certa época, a apelidar a bebida de “erva do diabo”, por terem percebido que a bebida os deixava mais dispostos e ativos e alguns afirmaram que teria supostas propriedades afrodisíacas, como cita no livro Insignes missioneiros, o jesuíta Francisco Jarque.

Ainda no início da ocupação espanhola, no século XVI, houveram tentativas de proibição da erva-mate. Alguns que se recursaram a deixar o hábito foram excomungados. Mas, à medida em que os padres aumentavam a interação com os nativos, alguns também aderiram ao hábito. No entanto, os próprios soldados espanhóis, não resistindo à tentação de provar a bebida, acabaram se tornando entusiastas da erva-mate e levaram o hábito às casas coloniais espanholas.

A perseguição ao consumo do mate durou pouco. Já no século XVII, os religiosos passaram a incentivar o uso da bebida para combater o consumo excessivo dos derivados de alcoólicas e outras drogas. Sem o chá da planta ocorreu uma piora até mesmo no desempenho no trabalho. Os jesuítas, seguindo o exemplo dos ingleses, que tomam o seu chá quente, resolveram esquentar a água do tererê. Assim nasceu o chimarrão como é conhecido hoje.

Com isso, durante os séculos XVII e XVIII, os jesuítas, que antes combatiam a bebida, passaram a estimular o seu plantio racional. Nesse período foram criados as primeiras técnicas que permitiram domesticar a planta e técnicas de secagem, o que permitiu ampliar as plantações para que as áreas das antigas reduções passassem a significar a principal fonte de renda. Os padres não só passaram a incentivar seu consumo, como também passaram a controlar as exportações dessa planta. Suas propriedades milagrosas cruzaram os mares e foram a Europa, como “chá dos jesuítas”. Por mais de século e meio (1610-1768), os padres mantiveram o comércio de seus produtos na forma de chás e chimarrão. O hábito se espalhou desde o Peru até o Rio da Prata entre os colonizadores europeus, inclusive entre os padres para afastar o frio. Nos tempos colônias a erva-mate era conhecida na Europa como “Té de los jesuítas” ou “Té paraguayo”.

Algumas Missões Jesuíticas chegaram a ter mais de dez mil habitantes. Nessas reduções se plantava erva-mate e se criava gado. Há registros de plantações de 500 hectares na região das missões jesuíticas. No século XVIII as reduções haviam alcançado sucesso econômico e grande autonomia administrativa a ponto de tornarem-se uma ameaça ao poder das coroas ibéricas. Para evitar o avanço do poder da Companhia de Jesus na região, eles foram banidos do Brasil em 1759 por decreto do Marquês de Pombal. Em 1768, por ordem do rei Carlos III, a Espanha fez o mesmo em suas colônias americanas. Como a entidade também passou a ter grande poder dentro da igreja, em 1773, por iniciativa do papa Clemente XIV dissolveu a Companhia de Jesus e encerrou o projeto missioneiro. As comunidades foram logo abandonadas ou destruídas pelos bandeirantes.

Com isso, as comunidades foram sendo abandonadas ou destruídas pelos bandeirantes. Com o fim das Missões Jesuíticas, muitas plantações ficaram ao deus-dará e o gado espalhou-se pelos pampas e procriou-se livremente. Foi nesta época que surgiu a popular figura do gaúcho, valentes homens que viviam à margem da sociedade colonial, mestiços de sangue indígena e amantes da vida livre. Vagavam pelos pampas caçando gado selvagem e alimentando-se de carne bovina e chimarrão.
No ano de 1804, há registros do Porto de Paranaguá, da intensa exportação brasileira de erva mate, que passaram a ocupar os porões de navios, viajando milhares de quilômetros até atingir mercados europeus, americanos e principalmente os países do prata.

Durante esse período os governos português e espanhol promoveram e incentivaram a expedições. Em uma dessas ações visitou a região que na época era paraguaia, mas atualmente é território brasileiro o pelo botânico, naturalista e viajante francês Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire (4 de outubro de 1779 - 3 de setembro de 1853). O francês veio para o Brasil em 1816 e deixou o país em 1822.Ele classificou a erva-mate em 1820, após observar os ervais nativos. Depois da Guerra do Paraguai, o território passou para os domínios brasileiros como forma compensar os gastos no conflito. Saint-Hilair conta em suas observações que optou entre duas designações: Ilex paraguariensis e Ilex mate. Optou pela primeira expressão. Mas o naturalista esteve várias vezes no Brasil e até mesmo passou pelo Rio Grande do Sul (NADOLNY, 2014).

A partir de 1821 o governo central passou a impor a cobrança de taxas pesadas sobre os produtos rio-grandenses, como charque, erva-mate, couros, sebo, graxa, etc. Em 1835, teve início a Revolução Farroupilha, que pretendia separar o Rio Grande do Sul do resto do Brasil. Confeccionou-se um brasão para a república separatista, fazendo parte do brasão um ramo de erva-mate.

Com o fim das Missões, os paraguaios passaram a ser os principais produtores no lado espanhol, responsáveis por atender quase toda a demanda. Este domínio acabou quando, em 1865, eclodiu a Guerra do Paraguai (27 de dezembro de 1864 a 8 de abril de 1870). Em virtude do conflito, o Paraguai optou por proibir a exportação de erva-mate. Com isso, países como Uruguai e Argentina começaram a substitui-la pela erva-mate produzida no Brasil, o que ocasionou o desenvolvimento do cultivo em Santa Catarina e no Paraná. Isto desencadeou o chamado Ciclo da Erva-Mate, que fez o Paraná, antes a “Quinta Comarca” da Província de São Paulo, emancipar-se e se tornar a Província do Paraná em 15 de dezembro de 1853. Seus produtos da década de 1920, chegaram a ser moeda na época e principal produto brasileiro de exportação.

O primeiro engenho brasileiro de erva-mate teve seu funcionamento autorizado em 1808. O empreendimento pertenceu a Domingos Alzagaray, argentino residente na cidade de Paranaguá. Os primeiros engenhos eram movidos por energia hidráulica, logo mais foi substituído por energia a vapor. Os trabalhadores que atuavam nesses engenhos era conhecidos como “homens verdes” devido ao pó verde da erva-mate que sobrava depois de processada.

Durante mais de cem anos a erva-mate foi o principal alicerce da economia do Paraná. As grandes mudanças e melhoramentos da infra-estrutura, que alteraram a fisionomia social paranaense, aconteceram em virtude do avanço do setor ervateiro. A primeira ferrovia, a estrada que liga Curitiba ao porto de Paranaguá, só foi construída em função da necessidade de melhorar o escoamento da produção destinada à exportação. Esta obra é considerada até hoje como uma grande proeza de engenharia, pois, contando apenas com os recursos técnicos da época (entre 1880 e 1885), cruza o relevo muito acidentado da Serra do Mar. A segunda estrada de ferro, entre Guaíra e Porto Mendes, nas margens do Rio Paraná, também surgiu em decorrência do ciclo da erva mate.

Nos dias de hoje, já no início do século XXI, a relevância econômica da erva mate, evidentemente, já não é a mesma para a economia paranaense. A estrutura econômica se diversificou, novas regiões do estado foram desbravadas e ocupadas, o que trouxe grande crescimento demográfico. No entanto, as primeiras sementes da industrialização e do desenvolvimento do Paraná, foram plantadas pelos industriais e comerciantes de erva mate do século XIX. Durante o século 19 e começo do século 20 a economia das regiões em que hoje estão os estados de Santa Catariana, Paraná e Mato Grosso do Sul, foi marcada pela produção e exportação da erva-mate.

O que também contribui para que outras regiões, além do Paraguai e o atual estado do Paraná, avançassem na produção comercial da planta foi a chegada, no século XIX, dos imigrantes europeus ao sul do Brasil, e na região de Missiones, na Argentina. (VASCONCELLOS, 2012).
durante mais de cem anos a erva mate foi o principal alicerce da economia do Paraná. As grandes mudanças e melhoramentos da infra-estrutura, que alteraram a fisionomia social paranaense, aconteceram em virtude do avanço do setor ervateiro. A primeira ferrovia, a estrada que liga Curitiba ao porto de Paranaguá, só foi construída em função da necessidade de melhorar o escoamento da produção destinada à exportação. Esta obra é considerada até hoje como uma grande proeza de engenharia, pois, contando apenas com os recursos técnicos da época (entre 1880 e 1885), cruza o relevo muito acidentado da Serra do Mar. A segunda estrada de ferro, entre Guaíra e Porto Mendes, nas margens do Rio Paraná, também surgiu em decorrência do ciclo da erva mate.

Nos dias de hoje, já no início do século XXI, a relevância econômica da erva mate, evidentemente, já não é a mesma para a economia paranaense. A estrutura econômica se diversificou, novas regiões do estado foram desbravadas e ocupadas, o que trouxe grande crescimento demográfico. No entanto, as primeiras sementes da industrialização e do desenvolvimento do Paraná, foram plantadas pelos industriais e comerciantes de erva mate do século XIX.

http://www.ufrgs.br/ensinodareportagem/economia/ervamate.html
http://www.sindimaters.com.br/pagina.php?cont=sindimate.php&sel=2
FLAUSINO, Márcia Coelho. A voz rouca das manchetes: como Veja mostrou os
Sem-Terras em suas capas. In: COSTA, Cléria Botêlho da; MACHADO, Maria Salete
Kern (Orgs.) Imaginário e história. Brasília: Paralelo 15, 1999.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no
Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
PESAVENTO, Sandra Jatahy. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano –
Paris, Rio de Janeiro, Porto Alegre. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 1999.
ARDENGHI, Lurdes Grolli. Caboclos, ervateiros e coronéis: luta e resistência no norte de Rio Grande do Sul – Passo Fundo: UPF, 2003.
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URBAN, Teresa. O Livro do Mate
Fonte:
http://www.unc.br/mestrado/editais/dissetacao_mafra_seguranca.pdf
http://www.museuparanaense.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=62
http://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/especiais/erva-mate/origens.jpp
https://historiadorsupf.wordpress.com/2015/06/25/um-pouco-da-historia-da-origem-da-erva-mate/

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