segunda-feira, 30 de maio de 2016

Dia do chimarrão no Rio Grande do Sul

1
O chimarrão faz parte da tradição de diferentes povos e no Brasil essa atividade está concentrada de forma mais intensa na região sul. Nessa região, a água quente na cuia fortalece o sabor da tradição. Para os gaúchos, o mate – como também é conhecida a bebida feita a partir da infusão que mistura erva-mate com água aquecida – é essencial em vários momentos do dia. Por isso, o chimarrão é o hábito típico mais difundido entre os gaúchos e na sequencia figuram o arroz de carreteiro e o churrasco. Se pode matear sozinho ou acompanhado, bem como também no lazer, na rua, na aula ou no trabalho. Alguns o preferem pela manhã para começar bem o dia, outros depois do almoço. Logo após a sesta ou mesmo antes da janta. O certo é que para apreciar um chimarrão é indiferente o momento, a condição social ou cultura. Nem mesmo a beira da praia, junto a orla, o bom verde é deixado de lado. Hoje em dia o chimarrão é uma ferramenta essencial para bem acolher o visitante e uma das formas de celebrar a vida. O doce-amargo é cada vez mais símbolo de amizade e hospitalidade.

No Rio Grande do Sul todas essas ações ganharam eco e transforaram a bebida e a planta símbolos do estado. O hino, a bandeira e o brasão de armas são símbolos oficiais, mas outros foram agregados, a árvore da erva-mate, o cavalo crioulo, a ave quero-quero, a planta Marcela, a flor Brinco de Princesa e a estátua Laçador. A árvore de erva-mate "Ilex Paraquariensis" foi elevada a ícone a partir da lei de número 7.439, de oito de dezembro de 1980. Nessa mesma lei foi instituída a "Semana Estadual da Erva-mate", a ser comemorada, todos os anos, na segunda semana de setembro. De forma mais recente foi instituído no Rio Grande do Sul, o chimarrão como bebida simples. Na mesma dada em que passou a ser celebrada a bebida, o churrasco foi elevado a “prato típico”. O Dia Estadual do Chimarrão, a ser ser celebrado em 24 de abril, foi autorizado pela lei de número 11.929, de 20 de junho de 2003. A lembrança é referência a fundação do primeiro Centro de Tradições Gaúchas no mundo, o 35 CTG, localizado em Porto Alegre. O 24 de abril foi sugestão do Movimento Tradicionalista Gaúcho.

Embora, atualmente o hábito de consumir chimarrão seja sinônimo de congregador, aproximador e de valorização do espirito democrático, nem sempre foi assim. Teorias e investigações indiquem que a origem da palavra venha do castelhano (cimarrón), que significa “clandestino”. Apesar do radical ter sido adotado no português, é provável que a expressão tenha sido estabelecida no século XIX, quando o Paraguai proibiu o comércio, em especial a exportação do mate, mas não conseguiu evitar que a erva circulasse de maneira clandestina. Outra teoria que também vem da língua espanhola estabelece que cimarrón é vem de expressões como chucro, bruto e bárbaro. Esse teria sido o vocábulo empregado em quase toda a América Latina, para se referir aos animais domesticados que se tornaram selvagens. A medida seria uma referência aos colonizadores que se apropriaram de bebida dos nativos.

Mas o certo é que com o passar dos séculos o costume de passar o porongo de mão em mão virou uma tradição social e cultural já consagrada no convívio humano. O aspecto conciliador que o chimarrão atualmente transmite foi iniciado a partir de observações de um médico alemão que visitou o Rio Grande do Sul. Roberto Avé-Lallemant (1812-1884) esteve no estado em março de 1858 e ao descrever suas observações da viagem, afirmou que o chimarrão é “símbolo da paz”. No livro “Viagem pelo Sul do Brasil” e impresso no Rio de Janeiro em 1953 ainda destacou fez outras observações sobre a bebida: “O símbolo da paz, da concórdia, do completo entendimento – o mate! Todos os presentes tomaram o mate. Não se creia, todavia, que cada um tivesse sua bomba e sua cuia própria; nada disso! Assim perderia o mate toda a sua mística significação. Não há nisso, nenhuma pretensão de precedência, nenhum senhor e criado; é uma espécie de serviço divino, uma piedosa obra cristã, um comunismo moral, uma fraternidade verdadeiramente nobre, espiritualizada! Todos os homens se tornam irmãos, todos tomam o mate em comum!”.

Hoje a erva-mate é muito mais do que chimarrão ou hábito, pois cada vez mais essa planta ganha status de alimento e mesmo de medicamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário